Parceria certa nas suas realizações

Onze empresas terão de corrigir balanço

Por decisão da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), 11 companhias terão de apresentar novamente os balanços do terceiro trimestre de 2008

Fonte: Valor Econômico

Graziella Valenti e Silvia Fregoni

Por decisão da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), 11 companhias terão de apresentar novamente os balanços do terceiro trimestre de 2008, mais especificamente, a nota explicativa que trata de derivativos e dos riscos que esses contratos representam. Esse é o saldo de uma análise que o órgão regulador promoveu, com 148 companhias, escolhidas com base em critérios de relevância e dispersão do capital no mercado. O órgão também encaminhou a 88 empresas sugestões de melhoria no tratamento desse tema nos próximos balanços.

Elizabeth Lopez Rios Machado, superintendente de relações com empresas da autarquia, explicou que o episódio dos derivativos - quando Sadia e Aracruz divulgaram enormes prejuízos e houve temores de que fosse uma situação generalizada - mostrou que havia falha na divulgação desses contratos por parte das empresas.

Foi depois destes acontecimentos que a CVM decidiu emitir uma deliberação (nº 550) detalhando como as empresas devem relatar esses contratos, de modo a deixar os riscos de perda mais claros para os investidores. Nesse documento, o regulador sugeriu, mas não obrigou, que também fosse apresentado um quadro de análise de sensibilidade, no qual seria divulgada a chance de perda ou ganho em três cenários.

Antes dessa deliberação, havia orientação da CVM sobre como tratar o tema, embora não tão detalhado como a deliberação emitida após a crise e também de forma não obrigatória.

O objetivo do estudo é contribuir com a educação do mercado sobre a regra nova e também fiscalizar a qualidade dos dados apresentados, disse Elizabeth. Segundo ela, um dos pontos comuns entre as companhias que terão de republicar os dados é a ausência de informações sobre a metodologia de cálculo do valor justo dos contratos e também sobre a política de proteção das empresas.

As companhias têm 15 dias corridos para reapresentar os dados ou recorrer da decisão ao colegiado da CVM. Os pedidos começaram a ser enviados às empresas em dezembro e alguns foram entregues ontem. Até o momento, de acordo com Elizabeth, cerca de 50% das empresas já reformularam as informações.

É o caso do frigorífico Marfrig. No balanço reapresentado, consta que a empresa contratou operações não especulativos para minimizar os efeitos das mudanças nas taxas de câmbio nos empréstimos e financiamentos, nas aplicações financeiras e dívidas com taxas de juros variáveis. No terceiro trimestre , o resultado financeiro líquido com derivativos totalizou uma despesa de R$ 11 milhões.

A Abyara, do setor de construção civil, também já reapresentou o balanço. Nas informações complementares divulgadas, a empresa diz que "usualmente não opera com instrumentos financeiros derivativos", mas que contratou algumas operações porque "o cenário econômico se apresentava favorável". Em um dos contratos, no valor de R$ 30 milhões, a empresa registrou uma perda de R$ 4,6 milhões no terceiro trimestre.

Também estão na lista de empresas que precisam republicar o balanço: Companhia Energética de São Paulo (Cesp), Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Inpar, Klabin Segall, Lojas Americanas, São Martinho, São Paulo Alpargatas, Vigor e Votorantim Celulose e Papel (VCP).

Da amostra avaliada pela CVM, oito empresas apresentaram notas explicativas completas, de acordo com a deliberação 550. Apesar disso, a autarquia considerou que o padrão de qualidade da apresentação dos dados foi "razoável". Ainda dentro do universo considerado, 36 empresas trouxeram o quadro de sensibilidade que era facultativo e 39 disseram "não se utilizar de quaisquer instrumentos financeiros até aquela data", fechamento de setembro.

A deliberação 550 foi uma antecipação de boa parte das novas regras contábeis que serão válidas já a partir do balanço anual de 2008, que será divulgado até o fim de março. No entanto, na versão final da nova regra, emitida em meados de dezembro, o quadro de sensibilidade que era facultativo no balanço do terceiro trimestre passa a ser obrigatório.

O tema levantou polêmica durante a consulta pública da regra com o Instituto Brasileiro dos Auditores Independentes (Ibracon), que se mostrou publicamente contrário ao pedido da autarquia para que sejam considerados cenários de variação do risco de 25% e 50% - como o risco da desvalorização do câmbio, por exemplo, quando se tratarem de contratos atrelados à moeda estrangeira.

A Cesp não recorrerá da decisão da CVM e pretende cumpri-la até o fim deste mês. "Não temos derivativos alavancados e não haverá mudança de resultado no novo balanço", afirma o diretor financeiro e de relações com investidores da companhia, Vicente Okazaki.

O executivo disse que "faltou tempo" para a adaptação das demonstrações financeiras da empresa às recomendações feitas pela CVM no ano passado. "A deliberação que pede abertura dos dados de instrumentos financeiros é de 17 de outubro, quando nosso balanço já estava praticamente fechado. Publicamos as contas em 14 de novembro", disse.

A VCP disse que foi notificada pela autarquia nesta semana. Segundo a empresa, a "crítica foi sobre o formato das informações divulgadas e não sobre o conteúdo". A empresa pretende divulgar o balanço corrigido em 15 dias. (Colaborou Catherine Vieira, do Rio)